“Se pulei ou desisti, o importante é que emoções eu vivi….”

Domingo de eleições em todo o Brasil. Como já expressei antes minha insatisfação contra a Democracia e meu aguardo até que se pensem maneiras possíveis de se implantar a Meritocracia como sistema administrativo, esse é um dia perdido para mim. Sim, fui às urnas exercer meu “direito“ ao sufrágio (que me é colocado como obrigação), mas o resto do tempo é dedicado à pensamentos desconexos e constantes que perpassam meu consciente.

 

Algumas pessoas têm medo de altura, mal podem chegar ao segundo andar e já sentem vertigem. Pensar em recostar-se em um guarda-corpo é para elas então a mais simples forma de tortura. Eu nunca sofri desse mal. Pelo contrário, a altura tem em mim um efeito oposto. Ela me atrai, me fascina e me atiça. Já senti isso várias vezes e em vários lugares diferentes. Diversas vezes essa atração me levou a conhecer os prédios mais altos das cidades que visitei. Mirantes turísticos então me causam um profundo prazer, lugares projetados única e exclusivamente para se apreciar a altitude. Sempre que pude subi no último andar dos edifícios, postei-me ante a mureta de proteção e verguei meu corpo à força da gravidade, mirando não o horizonte, mas o chão, cruel e concreto.

 

É inegável nesta posição não pensar em pular. O vento, a gravidade, a sensação, tudo leva a essa emoção. Hoje à tarde assistia ao primeiro capítulo da série Alice e, enquanto a protagonista se perguntava qual deve ser a sensação de pular do 20º andar, fazia-me a exata mesma pergunta. Resolvi então finalmente experimentar essa sensação. Mas antes de ser tomada, tal decisão (a não ser que venha precedida de muita depressão e problemas realmente insolúveis – se algum o for) precisa ser pensada com carinho. Resolvendo eu pular, o que deixo para trás? Além de família, meia dúzia de amigos, poucos pertences e “uma nota fria nos jornais”, o que vai provar que eu existi? Daqui a cinco anos, quem se lembrará quem eu fui, ou quem foi o cara por trás do Cafezinho? Certamente não vocês caros leitores que há dois meses nem sequer sabiam que poderiam encontrar um Frapê online. Sei, sei. Todo blogueiro que se preza já pensou um dia em acabar com o Blog. Mas não é disso que eu estou falando leitores. Estou falando de mim mesmo. O Homem por trás do “homem do cafezinho”.

 

Voltando às sensações que me assolam no momento onde qualquer passo será o último. Nesse instante, e somente nesse, nos rendemos a real liberdade. Face ao Fim, nos permitimos libertar das amarras sociais ou culturais que foram impostas ao nosso pensamento. Deixamos nossa mentalidade fluir leve e solta e fruímos mais, experimentamos sensações desconhecidas a muitas pessoas. Talvez se eu não pular dê tempo de ver aquela peça de teatro que estreou sexta. Ou ir ao cinema. Ou se embebedar mais uma vez. A altura e o frescor do vento em nosso rosto nos libertam de tais pensamentos. Nada muda. Ou tudo muda antes que percebamos o que levou a essa mudança. No fim só o que importa é: se eu tivesse pulado há cinco ou dez anos o que teria mudado?

 

Provavelmente pouco na vida das pessoas que eu conheço. Quase nada em minha cidade. Com certeza nada no mundo. Vivemos tentando pensar no que nossas ações vão modificar. Qual seria o rumo que nossa vida teria tomado caso eu tivesse agido de outra forma. Será que eu estaria melhor do que estou se tivesse recusado aquela oferta de emprego.

 

No fim, o que realmente mudou é que em Nova York não existem mais duas torres das quais também já pensei em pular. Acho que terei que me contentar com o prédio mais alto de Juiz de Fora…..pelo menos a viagem de elevador é emocionante. Fui. (Homem do Cafezinho)

Published in: on outubro 6, 2008 at 2:52 am  Comments (7)  

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7 ComentáriosDeixe um comentário

  1. O Sonho de Ícaro???
    Enfim, gostei. Eu costumo chamar estes momentos de pegar o táxi ou não. Como na cena de Closer, em que Alice sai num táxi e Daniel titubeia ao pensar em pegar. Ele não pega e dá no que dá. Enfim, pra tomar decisões sempre penso no táxi. Nunca tive traço megalomaníaco em vasculhar o que poderia acontecer aos demais caso desaparecesse no veículo e nunca mais voltasse. Confesso que tenho medo de altura. Embora, ultimamente, esteja numa fase de me atirar… Ainda não do 20° ANDAR. A própósito, não é mt glamouroso pular de onde quer que seja em Juiz de Fora. Acabaram de construir uma enorme torre aqui no Balneário. deveria tentar antes de tomar atitude mais radical…

    * Alice a mais normal?? O mundo acabou! Qual o nome do livro???

    besos

  2. Ahhhh. Por favor, não me lembra dessas eleições.
    Totalmente dispensáveis, em todos os âmbitos.

    Beijos, moço

  3. Por quê então não pular de pára-quedas ou voar de asa delta? Você vai conhecer a sensação mas sem deixar seus amigos para trás 🙂
    Bjos!

  4. Bungee Jump????
    Claro que pode vir. Mas não diga a ng meu endereço pq depois que vc pular, pode rolar processo e tudo mais. Vc tem q comentar sim, oras? Que preconceito é esse???
    Fico feliz que não tenha pulado e sinceramente podia me enviar este livro emprestado heim. Eu sempre devolvo. Juro!

  5. Pular ou não pular…

    Agora entendi o naipe das tais idéias… e posso falar?

    MEDO E FRIO!

    Kiss

  6. eu quero dizer pro bin laden que brasília tb tem duas torres e….

  7. Post incrível… sua argumentação impecável… Me peguei pensando hj na capacidade que temos de pensar, talvez se não fizéssemos isso com tanto afinco a vida seria muito mais simples, sem preocupações ou irritações, só o leve conduzir do vento…

    E se resolver pular algum dia é porque está pensando demais, tente aquietar a mente e um novo mundo abrir-se-á diante teus olhos!

    Bjos da Jô


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